O Távora - Um verdadeiro muro de Berlim talhado
pela natureza a dividir Ponte do Abade
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A Ponte do Abade distribuiu-se e está separada por uma e
outra margem do rio Távora.
A definição dos contornos administrativos do liberalismo não olhou a
situações consideradas menores na altura: o
rio Távora que separava a meio a aldeia; a parte norte da aldeia pertenceria
então ao concelho de Sernancelhe, e a parte sul à freguesia de Sequeiros, concelho
de Aguiar da Beira.
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Também depois da pequena ponte sobre a ribeira
de Gradiz com a zona da Fervença e com a mini-hídrica no Távora,
se volta à freguesia de Sernancelhe. As casa quintaneiras situadas na margem direita,
a jusante da ponte sobre o Távora, também estão sob a administração de
Sernancelhe.
Tal divisão proporcionou ao longo dos tempos o surgimento dos mais
diversificados conflitos e questões, por vezes caricatos
(por exemplo, se numa parte se construía um
campo de futebol a outro também a reclamava), com as inerentes consequências que os
detractores faziam avolumar, muitas só vezes por diversão. Porém hoje, a
situação é badalada, quando se levantam questões de ordem administrativa,
quando os autarcas não dispõem dos benefícios da civilização em tempo igual
para os munícipes dos dois lados, quando algum jornalista espreita a
situação como um furo jornalístico ou quando alguma família se indispõe
contra outra, alegando a divisão administrativa como pretexto.
Também no poder religioso por vezes, existem
alguns conflitos. Há bem poucos anos por decisão do pároco da influência
de Sernancelhe, e após a conclusão da nova Igreja, este decidiu o
encerramento |
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da Capela antiga com a consequente
impossibilidade do culto com os actos religiosos nesta, passando todos estes
para a nova construção. Surgiram os protestos, e então, dia e noite as horas
passaram a ser emitidas pelos sinos dos dois espaços religiosos da aldeia
nos dois tempos: cada um a fazer prevalecer as suas amplificações sonoras.
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Comparemos a divisão sócio-cultural, administrativa e
religiosa da influência de Sernancelhe situada a montante da ponte, com a de
Aguiar da Beira, a jusante: |
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No território de Sernancelhe: |
No território de Aguiar da Beira: |
-Concelho de Sernancelhe |
-Concelho de Aguiar da Beira |
-Freguesia de Sernancelhe |
-Freguesia de Sequeiros |
-Distrito de Viseu |
-Distrito da Guarda |
-Comarca de Moimenta da Beira |
-Comarca de Tancoso |
-Diocese de Lamego |
-Diocese de Viseu (mas no Distrito da Guarda) |
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Se os limites
não estivessem assim tão vincados, a Ponte do Abade tornar-se-ia
"numa grande freguesia", com condições e potencialidades de desenvolvimento.
Contudo, por várias vezes se tentaram mudanças na
povoação, mas tal não foi possível. Por outro lado, seria necessário
que uma das partes mudasse de concelho. |
Aí
começam os desencontros: é que se alguns concordariam em pertencer ao
município de Aguiar da Beira, já outros prefeririam Sernancelhe, e alguns, ao se
relacionarem com o distrito, optariam em grande parte por Viseu, devido
à
proximidade, acesso e desenvolvimento. Mas, como seria de esperar, nem
Sernancelhe nem Aguiar estarão dispostos a ceder parte do seu território.
Uma questão difícil de resolver e que deverá continuar assim por muitos
e largos anos, apesar de muita gente continuar a lutar para que se dê
uma verdadeira unificação da povoação, de forma a que deixe de existir
a divisão administrativa.
A povoação de Ponte do Abade já fez esforços
nos anos 70 para ser uma freguesia una; houve inclusive baixos assinados.
Dado que hoje, as questões administrativas
estão já um pouco diluídas é bem notório a capacidade de criação de riqueza
e
prosperidade em ambos os concelhos
sem abordar a questão de pertencer a um ou outro lado. |
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Todavia verdade é só uma: a população reconhece que Ponte do Abade como
freguesia, teria uma outra dimensão, independentemente de ser da jurisdição
de Sernancelhe ou Aguiar da Beira. |
Hoje a Ponte do Abade, na globalidade identifica-se como localidade próspera
onde os estabelecimentos comerciais se têm instalado com facilidade e
sucesso. Há uma diversidade de casas de diversão, cafés e restaurantes, pequenas unidades de indústria e serviços, escola do
1º ciclo, jardim de infância, e Igreja nova; Cemitério moderno e espaçoso, com
uma capela do século XIX a
enquadrar os acto funéreos.
Observa-se como memória do apogeu industrial de alguns anos atrás a
antiga fábrica da resina, que deu emprego a tantos e permitiu a
sobrevivência de muitos em tempo antigos, sem se ter perdido ainda nos
horizontes da visão.
Da antiga albergaria, restam hoje, com lembranças apetecíveis: o pão de
qualidade e nomeada inquestionável, e o conhecido bacalhau à Ponte do
Abade. E as migas de bacalhau ou a sopa de pedra trazem à colação e
expressão da arte culinária de alguns homens desta bem cosmopolita
povoação e de que fazem a delícia de alguns convívios e reuniões. |
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